Ensaio: A folha dançarina

A folha dança, rodopiando movimentos lindos no meio da rua sob o sopro do vento.
O vento carrega vagarosamente as nuvens que encobrem a maioria das estrelas.
A lua ilumina solitária ato a ato a apresentação da pequena folha.
O vento soprou inconstante, assim como o dançar da folha, que insistia em sua performance.
Outras folhas já caíram e já se foram, derrubadas pelo vento e levadas para longe, mas a folha se mantinha como podia em sua bela apresentação.
O fim natural de uma folha, que deveria simplesmente se perder no chão ao ser derrubada de sua árvore pelo vento, parecia cruel demais para esta exímia dançarina.
Pois ela simplesmente insistia de todas as maneiras em girar e brilhar sob a luz da lua em seu palco improvisado no meio da rua.
O balé solitário suplicava pela atenção de quem passase, por mais que as barulhentas folhagens das árvores, ainda verdes, insistiam em ignorar tal bela peça.
Há quanto tempo já durava a apresentação?
Quantos já haviam passado? E quantos ignorado?
Mas ela continuava ali, dançando, mesmo com o destino inevitável de se perder em uma sarjeta ou ser levada pela chuva.
Por que ela dançava?
Como aqueles movimentos podiam ser tão belos, sob um destino tão cruel.
Uma folha que já foi pétala, que já foi flor, com suas cores velas e vibrantes mas que agora seria invisível se não fossem seus belos rodopios no meio da rua.
A folha emprestou a solidão da lua, e a transformou em poesia com sua dança.
Enfim a folha não se perdeu, como um observador despercebido diria, mas sim se imortalizou.
A folha virou poema.
E poemas não se perdem.
Poemas não envelhecem, nem perdem a cor.
A folha, invisível, encantou a lua e emprestou seu brilho.
A folha invisível dominou a rua, e encantou seu poeta.
A dançarina perdida, não ficou só.
Ela nunca se foi.
Nem parou de dançar.
E a lua se lembra.

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